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A Revolução das Mulheres no Ayurveda, se não começou está na hora de começar.

Atualizado: 26 de fev. de 2021



Nestes últimos dias tenho estudado muito textos antigos sobre o Ayurveda. Para quem não sabe temos inúmeros textos tão importantes quanto a grandes tríades, o que me fez rever muitas coisas principalmente as traduções machistas onde a mulher está em segundo plano cuidando da sua saúde para servir ao homem e procriar e pasmem é estas traduções que circulam no meio como bons textos clássicos e que está na mão de muita gente, muita mesmo.


Bem, se você aprendeu sobre o ultimo tecido de a cadeia ser chamado de Sukra, você está seguindo o padrão machistas, porque absolutamente tudo que cercam nestes textos


Aqui traduzo do inglês, manipulando o texto primário:
O Vajīkarana-Tantra (Ciência dos Afrodisíacos)
"Trata de medidas pelas quais o sêmen de um homem (sukra) naturalmente escasso ou deficiente em qualidade torna-se desprovido de seus defeitos; ou é purificado, se perturbado pelos humores viciados do corpo (como o vento, etc.); ou é revigorado e aumentado em quantidade (se puro e saudável); ou adquire sua consistência saudável e normal (se emagrecido e enfraquecido pelas indiscrições da juventude). Trata de coisas que aumentam os prazeres da juventude e tornam o homem duplamente cativante, potente, com vigor, tecidos forte para ao acasalamento com a mulher e trazer uma linhagem de homens fortes"

Bem você chocou? Não, não se choque, porque se você é estudante e terapeuta de Ayurveda e estudou assim (rasa, rakta, mansa, meda, asthi, mejja e sukra) você estudou a ciência afrodisíaca para atuar com homens e sêmen e provavelmente aprendeu o jargão assim homem usa Ashwaganda e problemas femininos Shatavari, mas vem cá, Shatavari para anatomia e fisiologia do homem e não dá mulher? Como é estudar shukra e atuar no sonita? Alguém me explica?


O que é sonita? Então o tecido sexual da mulher não tem absolutamente nada a ver com a arte afrodisíaca traduzida nos textos, a começar que um óvulo é um tipo de sangue específico no ponto de vista chamado de óvulo. Nossa fisiologia e anatomia foram apagada pelos transliteradores homens.


Esta cultura perdura até hoje silenciosamente, tanto que quantas mulheres de destaque você conhece perto de tantos homens? Seja escritores, vaydias, donos de escolas, diretores, presidentes (status vendível) e toda a hierarquia que seja e quantas mulheres? Bem, te lembro de uma coisa: 99% à 90% não são homens nos cursos e sim Mulheres e outros gêneros. Pouco também se fala e vemos público LGBTQ+ nos holofotes ayurvédicos.


Com muita cautela estou estudando gêneros dentro dos clássicos do Ayurveda, tarefa de dificil investigação, mas encontrei muitos Slokas (versos) mencionando gêneros.


Os textos clássicos de Suśruta e Caraka Samhitas, datados do século I aproximadamente, detalham taxonomias de gênero e variações sexuais, incluindo o desejo pelo mesmo sexo, ou pelos dois sexos. Escrituras como os Puranas e Mahabharata entre outros, também fornecem referências de relações e comportamentos do mesmo sexo. (Referencias: Sharma A. Homossexualidade e Hinduísmo. In: Swidler A, editor. Homossexualidade e religião mundial / Sweet MJ, Zwilling L. A primeira medicalização: A taxonomia e etiologia da queerness na medicina indiana clássica. J Hist Sex / Jaiminiya Brahmana. Passagens I.300, I.330. In: Swidler A, editor. Homossexualidade e religião mundial. Valley Forge PA / Mahabharata, Puranas, Suśruta e Caraka Samhitas).


Só quero fazer uma outra observação aqui e importante, além claro de ter deturpado a ocupação das mulheres nos clássicos, em outros textos importantes de estudo, também foi assim para os outros gêneros, ou seja, deturparam, excluíram e isso vai de acordo com cada um dos comentaristas destes textos.


Os textos védicos questionam nossas próprias concepções de gênero; eles nos dizem sobre o desejo de prazer bissexual e o desejo de pertencer a ambos os sexos ao mesmo tempo são muito reais, mas irrealizáveis a pessoas comuns, exceto por aqueles com dons mágicos, com dons superiores. (entende porque foi apagado?) Bem além deles, tem menções no Atharvaveda (ah mas esqueci, só ensinam que Ayurveda pertence ao Sāṃkhya não é?)

Muitos mitos dão testemunho da percepção existencial do ser humano como bissexual e de transformações bissexuais ativas e de outros gêneros que não tinham especificidade mas diziam que existiam inclusive homens que viriam com alma de mulher e se comportariam claramente com vestimentas e comportamentos ( penso nos trans). Alguns podem mostrar o desejo de ser andrógino, mas claro as traduções feitas pularam estas partes ou tiveram considerações homofóbicas e transfóbicas viajando por longo tempo. (Isso me faz lembrar o livro “O nome da Rosa”), aliás muitos conservadores religiosos traduziram estes textos antigos.


A Nossa construção de Ayurveda moderna (detesto isso, detesto escrever , mas se faz necessário para entendimento), continua ainda excluir e veladamente tudo o que foi mencionado acima e passa replicar frases e construções machistas, mesmo numa aula com professora seguindo samhitas .


Neste texto apesar de citar outros gêneros, ressalto que um dia falarei deles aqui,com louvor, mas ainda estou em estudo para poder ter mais propriedades, verdade e poucos erros, não me sinto tão preparada por conta de saber que preciso ter mais segurança interna para falar e discernimento para poder amparar melhor seres humanos. Confesso que criam poucos acessos para que eu possa ter contato estreito com este assunto, mas eu conseguirei fluir e não tenho com quem discutir muito sobre este acesso, apenas com professores e ficamos na teoria, e sabemos que na prática a teoria é outra.


Para tanto quero focar aqui nas medicinas para mulheres. Quero mostrar e questionar o por que de que provavelmente não conseguimos evoluir no estudo de Ayurveda para mulheres sem apoio da Medicina Ocidental, que na realidade não tem absolutamente nada a ver com a racionalidade do que é a mulher para o Ayurveda.

Quero falar o porque tiraram nossa parte, parte do nosso corpo dos clássicos, tiraram e roubaram um pouco do nosso direito de entender, mas como sou tinhosa, fui atrás durante anos viu, mais de 20 e encontrei sobre nós, ufa, sobre nossa anatomia, sobre nosso poder, nossa saúde mental, física, emocional com o mais sublime estudo do céu e da terra e longe deste mundo de textos revirados para satisfazer apenas o genero masculino.


O Mecanismo da nossa estrutura nos textos são completamente diferentes do olhar ocidental, garanto isso, inclusive que existe um Nadi no útero que leva a um campo no cérebro onde nasce o sexto sentido, e por isso que coisas acontecendo no útero nos dão dores de cabeças em várias intensidades. Este mecanismo é complexo e pode até ajudar na fertilidade da vida e não só para ter filhos.


O que não podemos mais é ficar quietas mediante a tudo isso, não podemos mais aceitar a tratar mioma pelo Ayurveda, porque ele não cuida de doença, mas de vida e vida sendo cuidada, somos capazes de entender sobre o fio que teceu os desconfortos, até mesmo no céu da pessoa e não só no corpo.


Bem o fato que muitos relatos em livros datados de 1200, 628, a 263 a.C mencionam que o fato de homens ocupar o espaço e proibiam mulheres a serem “médicas” e isso dificultava ao atendimento de mulheres e assim consequentemente não era permitido que mulheres tivessem prioridades de atendimento, e também não permitiam o apalpamento e o que podia ser simples e passou a ser complicado diagnosticá-las, documentavam o que achavam, faziam comentários em clássicos de acordo com esta experiência rasa e irrelevante.


Isso acontecia por vários motivos: primeiro, esperava-se que o tratamento de mulheres doentes fosse acionado e ocorresse sob a autoridade masculina, porem os mesmos desconhecem a sua anatomia por conta da subtração dos mais profundos conhecimentos anatômicos e o que tinham era o raso e trivial, e aproveitavam também a sua incapacidade e colocavam reforços nas autoridades masculinas e as masculinas reforçavam, infelizmente esta incapacidade como forma de proteger o médico em questão. O “médico” visitante discutia os problemas da mulher e o diagnóstico por meio do homem, ou do marido ou do pai, nunca jamais a elas. Em segundo lugar, as mulheres costumavam ficar em silêncio sobre seus problemas com médicos e figuras masculinas devido à expectativa da sociedade de modéstia feminina e a presença de uma figura masculina na sala, algumas vezes eram proibidas de falar dos seus problemas ginecológicos pelos próprios “donos” delas (alguns textos trazem a escrita de que o corpo da mulher tornava propriedade do homem com quem casava😡). Terceiro, a presença da autoridade masculina no quarto da doente e a sociedade dominada pelo patriarcado também fez com que os médicos referissem a seus pacientes mulheres e crianças "a categoria anônima de membros da família em seus diários. Esse anonimato e a falta de conversa entre o médico e a paciente fizeram com que o diagnóstico investigativo dos fosse o mais desafiador, porem muitos usavam da incopetencia para documentar o indocumentável, erros e que são estudados como verdades até hoje. Os médicos na Índia tradicionalmente usavam uma estatueta de mulheres ou através de corpo de mulheres que julgavam não boas para terem maridos e “acasalarem”, ou dignas de respeito da família tradicional. Ufa como é difícil para escrever isso, e desta forma a mulher apontavam para locais na estatueta ou para corpo de outras mulheres (marginalizadas), indicando a localização de seus sintomas e era às cegas seus tratamentos e na maioria das vezes documentados de forma errada, incluídas nos textos como tratamento para dor x, y e z.


Até hoje, podemos ver médicos que ainda perguntam se o marido autoriza o procedimento, quem nunca viu, basta ter um mês de trabalho social em hospital.


Isso me faz questionar muito se o que tem de material para estudo e o que se aprende está certo até que ponto para tratar uma mulher.


Até que ponto vamos estudar shukra como tecido sexual achando que é parte da fisiologia da mulher?
Até quando seremos muitas a se formar e não ocupar nossos espaços?
Até quando você vai tratar com Ayurveda para Mulheres com base na anatomia e fisiologia ocidental?
Até quando vamos observar 90% da sala sendo mulheres 10% delas em destaques na vida profissional?
Até quando vamos sujeitar a achar que Ayurveda é culinária, dieta e massagens e estar neste papel?
Enfim tenho verdadeiramente muitas perguntas, mas nem sempre tão gentis, por isso ainda guardo e peço que reflitam que são as Mulheres do Ayurveda?

Quem e onde vocês querem chegar? Como pensam em prosperar, felizes e saudáveis mediante tudo que o Ayurveda nos permite verdadeiramente? O que de nós é direito e merecimento virá, mas precisamos criar uma força maior, uma união.


Sabe, isso não é mérito apenas do Ayurveda, como na Medicina Chinesa e como em muitas outras culturas, a saúde e a medicina dos corpos femininos eram menos compreendidas do que os masculinos. Os corpos das mulheres costumavam ser secundários aos masculinos, já que as mulheres eram consideradas o sexo mais fraco e doentio que serviam para procriar e cuidar do lar.


Agni e Soma eram essenciais para a compreensão dos corpos femininos, mas só eram compreendidos em conjunto com os corpos masculinos e assim são mencionados nos textos. As síndromes femininas eram mais difíceis de tratar e curar aos olhos de muitas culturas por crenças sociais e culturais que formavam frequentemente barreiras para a compreensão do corpo feminino.


Por exemplo, entender o útero e sua diferença fundamental em relação aos corpos masculinos era irrelevante. As traduções não reconheceram o útero como o local de reprodução, mas está descrito em detalhes nos textos mais raiz e hoje estão revendo e trazendo este olhar, mas mesmo assim é muito, muito ocidental com termos em sânscrito (entendo e esforço).


A cavidade abdominal apresentava patologias semelhantes em homens e mulheres, então generalizaram tratamentos iguais, inclusive nos Saṃhitā que você tem em mão neste momento. O "sistema mestre discípulo é o que salva” que ajudou a identificar vários erros e manipulações machistas por exemplo.

Pasmem, o sistema visceral dos rins, que governava as funções reprodutivas e menstruais e que não são o útero, foi que abriu meu olhar e me permitiu a estar aqui falando para vocês que neste momento que me aguçou a investigação sobre o corpo das mulheres, nosso corpo, nossa fisiologia e mente. Portanto, não foram as estruturas anatômicas generalizadas que me convenceu que era o Ayurveda para Mulheres, porque no meu corpo não batia com o que lia.


As crenças sociais e culturais costumavam ser barreiras para aprender mais sobre a saúde feminina, sendo as próprias mulheres a barreira mais formidável. As mulheres muitas vezes se sentiam desconfortáveis ​​ao falar sobre suas doenças, especialmente na frente dos acompanhantes masculinos que compareciam aos exames médicos, por conta de como socialmente foram engessadas e tinha seu papel totalmente traçados por homens a ponto de não ocupar nem mesmo os espaços do seu corpo quem dirá social e cultural.


As mulheres optariam por omitir certos sintomas como meio de manter sua e honra e não sofre punições. Um desses exemplos é o caso em que uma adolescente não pôde ser diagnosticada porque não mencionou seu sintoma de corrimento vaginal que na época era um sinal de que sua virgindade não existia e desta forma sofria com castigos corporais e mentais terríveis. O silêncio era sua maneira de manter o controle nessas situações, mas muitas vezes custava à sua saúde, sua integridade e vida e desta forma também barrou o avanço da saúde feminina e o uso dos textos e conhecimentos mais sagrados voltado a recuperar sua saúde. Esse silêncio e controle eram vistos de maneira mais óbvia quando o problema de saúde estava relacionado à essência do corpo sexual. Muitas vezes era nesses ambientes de diagnóstico que as mulheres optavam pelo silêncio. Além disso, haveria conflito entre paciente e médico sobre a probabilidade de seu diagnóstico. Por exemplo, um julgamento de um médico homem que uma mulher teria passado da idade de “procriar e acasalar” (dizeres de livros) e que não teria, além do direito a capacidade, então o médico deixava desapercebido a gravidez e a tratava de forma totalmente errada incluindo e documentada perda do bebe, do útero e da vida. Isso só resultou em mais conflito, porque eles documentavam em seus livros os sintomas de gravidez como doenças graves e pior traçavam e faziam seus comentários no Charaka e Sushruta, como deveriam tratar estes sintomas “graves”, pouco graves, porem denominaram sintomas de gravidez (da qual eles tinham incapacidades de diagnosticar) com várias “doenças” e pior? Está nos Clássicos transliterados ao alcance de todos nos dias de hoje.


Em conclusão, saúde feminina e medicina era um tópico que não era bem compreendido dos corpos femininos, muitas vezes isso acontecia apenas através das lentes dos corpos masculinos. As mulheres eram vistas como variações dos corpos masculinos, inferiores porém, com estruturas semelhantes, menos complexas e não completas. Entendiam alguns processos diferentes, como a menstruação.


A Justificativa medíocre que se faz até hoje que a culpa de não termos tudo detalhado foi agravado pela autonomia das mulheres que optaram por ficar em silêncio durante os diagnósticos, complicando assim a questão da saúde feminina e da medicina.


Sinto em dizer que ficavam caladas não por vergonha, mas por medo, por ameaças, por falta de autonomia de si, do seu corpo, pelas punições severas.


Até hoje a mulher ainda leva a culpa e é julgada amordaçada perante a violação do seu corpo, da sua mente, da sua emoção. Até hoje as mulheres sofrem punições, sofrem ameaças, seja de pessoas próximas ou de assediadores, abusadores dentro mesmo do Ayurveda, a cultura machista ainda é presente nos dias de hoje e muitos seguem ainda este padrão de enxergar a mulher ou pelo prisma sexual ou por ser secundária ao homem.


A Revolução chegou, ou acordamos ou o Ayurveda passará mais séculos levando o que dele não pertence, mas da perversidade de muitos.


Sou a Revolução em mim, sou a Revolução pela minha filha, sou a Revolução das Mulheres dentro do Ayurveda e digo: não aceitei de forma nenhuma os textos machistas por ser "referencias" de traduções e comentários rasos, pequenos, de grandes autores. Chega!


Não me dei por convencida, nunca! Principalmente sobre os textos machistas e os reforços de que eram assim e que precisamos modernizar, modernizar o que? Se até outros gêneros eram falados, mencionados.


Só quer modernizar quem nunca se prestou a estudar a fundo sem cortina de fumaça machista, preconceituosa e aceita o que apresentam em slokas curtos em nenhum fundamento, tipo frase de efeito e autoajuda.


Eu optei estudar, investigar, traduzir muitos textos, separar joio do trigo para depois eu virar professora, porque a mim cabe uma coisa ensinar com responsabilidade e não me pendurar "mestres e gurus" de renome para fazer valer como verdade "clássicos" por exemplo.


Traduzi um classico todo Chamado Charaka, estou traduzindo Sushruta, e fazendo comentários do Atharva Veda, e para isso tive que investigar outros textos, pesquisar para poder, aqui, falar abertamente com segurança.


E você vem comigo?


Saúde e Paz!

Cris Ayres Motta


Quero deixar aqui uma reflexão:

Se é sagrado, se é da humanidade, se é do mundo, se é conhecimento da vida, se acolhe todos... Por que ainda continua patriarcal e muitos acham que não tem como mudar o clássico?


Mudar não, mas corrigir, corrigir o que é de direito da mulher ocupar e não ter um papel secundário.


Eu já revolucionei isso há tempos em mim, nas minhas alunas, no meu consultório. Agora está na hora de começar uma revolução ai, começar a mudar e criar força para erguer o que mais temem, a MULHER!




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